Programa do CILX2018

Ficha completa

TítuloPolaridade, expressão de grau e negação: a forma vernácula "caraças"
AutoríaClara Pinto (Universidade de Lisboa, Centro de Linguística)
ResumoNesta comunicação mostraremos que a forma vernácula caraças, considerada um minimizador (cf. Horn 1989), é empregue em Português Europeu Contemporâneo (PEC) não só como Item de Polaridade Negativa mas também como Item de Polaridade Positiva. Embora o nome comum feminino caraça exista como aumentativo de cara, o item de polaridade caraças, empregue no masculino e plural, parece ter surgido como eufemismo de caralho (termo tabu, considerado grosseiro e ofensivo, usado para designar o membro sexual masculino). Ambos os termos apresentam a mesma distribuição. Caraças permite expressar os pontos mínimo e máximo de uma escala de valor. Em (1) surge no escopo da negação com valor idêntico a nada. Já em (2) é empregue num contexto afirmativo assertivo, atribuindo um grau positivo ao nome exibição (uma exibição muito boa).

(1)Não estou a perceber um caraças. (Twitter, 13/11/2017)

(2)O Bruno Varela fez uma exibição do caraças. (Twitter, 1/12/2017)

Dado que caraças pode surgir em contextos positivos e negativos, é necessário avaliar se estamos perante um item bipolar (na aceção de van der Wouden 1997 e Spector 2012) ou dois itens distintos. O contraste de aceitabilidade de (3) e (4), onde caraças surge no escopo direto de um operador de negação regular, é revertido em contextos clássicos de negação metalinguística (cf. Horn 1989) como (5) e (6). Apenas o item em (6) é compatível com negação metalinguística por se tratar de um IPP.

(3)Este filme não vale um caraças.

(4)# O Ronaldo não é um jogador do caraças.

(5)Este filme não vale um caraças. # É o melhor filme de sempre.

(6)O Ronaldo não é um jogador do caraças. É o melhor jogador do mundo.

Finalmente, mostraremos que caraças participa em contextos de negação discordante (7), como marcador de negação metalinguística, semelhante a outros marcadores não-ambíguos do tipo de uma ova.

(7)A: Amanhã vou ao cinema!

B: Vais, o caraças! Ficas em casa a estudar!

Referências

Horn, L. 1989. A Natural History of Negation. Stanford: CSLI Publications. 2001.; Israel, M. 2001. “Minimizers, Maximizers, and the Rhetoric of Scalar Reasoning”. Journal of Semantics 18, 297-331. Spector, B. 2012. “Being simultaneously an NPI and a PPI: a bipolar item in French”. Snippets 25, March 2012. Wouden, Ton van der.1997. Negative Contexts. Collocation, polarity and multiple negation. London: Routledge.
TipoComunicación
HorarioMércores 13 de xuño | 12:30 - 13:00 | Aula: C2