Programa do CILX2018

Ficha completa

TítuloEntre verbos principais, verbos copulativos e cópulas vazias na Língua Gestual Portuguesa
AutoríaCelda Morgado Choupina (ESE/PPorto)
ResumoOs verbos estar (stare) e ficar (figicare), apresentam na sua definição semântica original a associação a posicionamento (estar na vertical) e espaço (colocar ou fixar algo), respetivamente, ainda que na evolução do Português Europeu (PE) tenham passado por um percurso de extensão semântica (Raposo, 2013). Estes verbos culminam a sua evolução em usos considerados copulativos, (1)-(3).

(1)A Maria está cansada. (Raposo, 2013:1330)

(2)O carro ficou no parque subterrâneo. (Duarte, 2003: 538)

(3)A Maria ficou cansada. (Raposo, 2013:1330)

Os verbos copulativos, em estruturas com interpretação de estados são o núcleo verbal de um predicado que inclui um constituinte com a função de predicativo do sujeito, podendo diversificar categorialmente (cf. 4).

(4)a) Hoje, a Joana está bonita. (PE)

b) O João está um rapaz simpático. (PE)

c) O rapaz ficou em pânico. (PE)

d) A senhora ficou bem. (PE)

No âmbito destas estruturas, não é conhecido qualquer estudo para a Língua Gestual Portuguesa (LGP), pelo que se justifica esta investigação. O nosso principal objetivo foi estudar os verbos estar e ficar, na LGP, particularmente nas interpretações de estados (1, 3, 4) e nas interpretações relativas a localizações (2, 6), no sentido de perceber o funcionamento léxico-sintático. Para isso, realizou-se uma pequena experiência com frases simples, maioritariamente declarativas, sendo a amostra composta por 4 surdos fluentes e nativos e 1 intérprete fluente. Deste modo, a partir de frases recolhidas em LGP, foi possível perceber os diferentes gestos realizados para estes verbos, avaliar as formas de realização e alguns dos aspetos sintáticos das construções.

Em LGP, nas frases de (4), com leitura de estado, o predicado parece apresentar cópula vazia, sendo apenas gestualizado o sujeito e o predicativo do sujeito, como podemos observar pelas frases (5a) e (5b), correspondentes em LGP às frases (4a) e (4c) do PE.

_________it

(5a) J-O-A-N-A HOJE BONITA (LGP) (Choupina et al. 2015).

_____________ict

(5b) RAPAZ PÂNICO_[Prolongamento do gesto] (LGP)

Os verbos estar e ficar, seguidos de sintagma preposicional ou adverbial, apresentam também usos locativos (6), sendo que em LGP estes verbos já apresentam expressão linguística, como em (7a e b) se ilustra. De referir que estes exemplos encerram, contudo, uma interpretação locativa de curta duração ou com delimitação temporal, o que permite a alguns autores argumentar a favor da realização de um estado delimitado e localizado.

(6)a) Os meus filhos estão na escola/lá/aqui. (LP)

b) Ontem, eu fiquei em casa/lá/aqui. (LP)

(7a) FILHO MEU ESCOLA ESTAR_CM (Mão Aberta)_[estático e suspenso] (LGP)

(7b) ONTEM CASA FICAR_CM (F)_[repetido] (LGP)

Poderemos não estar perante os mesmos verbos com dois usos (estados/locativos), mas perante verbos distintos: um copulativo, sintaticamente nulo, e outro pleno, com realização sintática. Raposo (2013: 1332) equaciona esta problemática para o PE. A LGP traz novos dados à discussão: nos usos destes verbos em predicados que expressam um estado ou uma mudança de estado não há realização linguística, nem marcação de pontos espaciais; nos usos com interpretação locativa, existe gesto correspondente a cada verbo (cf. 7a e 7b), realizado num ponto específico no Espaço Sintático.
TipoComunicación
HorarioXoves 14 de xuño | 17:00 - 17:30 | Aula: C2